Por que as coisas significam o que significam para você? Por que um aperto de mão, por exemplo, pode ser um cumprimento, mas em outro contexto, um acordo? A resposta pode ter diversas explicações e uma delas está no Interacionismo Simbólico, uma corrente teórica muito interessante que nasceu da sociologia e deu os primeiros passos em direção às Teorias da Comunicação.
Esse conceito teve origem na Escola de Chicago, no início do século XX, para entender as dinâmicas sociais, como construímos significados e como a comunicação influencia as nossas vidas.
Ou seja, o Interacionismo Simbólico analisa como nossas interações cotidianas moldam nossa compreensão do mundo e de nós mesmos. Leia até o final, porque preparei um conteúdo valioso aqui te guiar em seus estudos e tirar suas dúvidas.
O que é o Interacionismo Simbólico?
O Interacionismo Simbólico é uma abordagem sociológica que coloca a interação social e a troca de símbolos no centro da compreensão da sociedade.
Em poucas palavras, em vez de focar em grandes estruturas sociais, ele se concentra em como os indivíduos, através de suas interações, criam e interpretam significados, e como esses significados influenciam seu comportamento e a própria organização social.
Tudo isso foi possível graças à Escola de Chicago, onde essa teoria se desenvolveu e trouxe “contribuições muito profícuas para refletir sobre a constituição dos grupos na cidade e as relações interpessoais ali configuradas”, como afirmam Vera V. França e Paula G. Simões no livro Dicionário de Comunicação (2014).
O papel da Comunicação e dos Símbolos
A comunicação, especialmente através da linguagem e outros símbolos, é fundamental no interacionismo simbólico. É através da troca de símbolos que compartilhamos significados e entendemos as perspectivas dos outros.
“O processo comunicativo é visto como uma interação ou troca simbólica, realizada através da linguagem, por ações reciprocamente referenciadas de sujeitos que têm consciência dessa mútua afetação”.
(FRANÇA; SIMÕES, 2014, p. 143)
Um conceito importante aqui é o de “gesto significante”, de G. H. Mead, que aborda como um gesto se torna significante quando ele provoca, no emissor, a mesma resposta que ele espera provocar no receptor.
É essa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e anteciparmos suas reações que torna a comunicação eficaz e a interação social possível.
Reúne questões e referências fundamentais. Os 65 verbetes combinam informação e reflexão acerca dos principais autores, escolas e teorias da área. Os verbetes relativos às escolas e às teorias contextualizam a origem, os momentos mais importantes e sua evolução. Já aqueles relativos aos autores destacam os estudiosos cujas obras e ações promoveram e ainda promovem contribuições expressivas para o campo da comunicação. Além disso, inclui, na estrutura dos verbetes, as repercussões brasileiras, discutindo de que forma essas referências estão presentes nos estudos comunicacionais realizados no país.

Principais autores e suas ideias
George Herbert Mead é a figura central no desenvolvimento do Interacionismo Simbólico. Ele estabelece três eixos para o ato social completo: mente, self e sociedade; rompendo com a dicotomia entre indivíduo e sociedade.
Esse ato social ocorre por meio de um “gesto significante”, que representa uma dinâmica de mútua afetação e reflexividade entre esses três eixos. Mead também desenvolveu uma ontogênese do self, mostrando como ele surge em três fases (brincadeira, jogo e outro generalizado) através da atividade, comunicação e experiência social.
Herbert Blumer, aluno de Mead, foi quem cunhou o termo “interacionismo simbólico” e fundamentou suas três premissas principais. Ele enfatizou que a ação dos indivíduos no mundo é orientada pelos significados que este oferece – uma visão compartilhada com John Dewey.
Além deles, a perspectiva do Interacionismo Simbólico também influenciou o trabalho de outros estudiosos, como Charles Horton Cooley, frequentemente creditado como um dos “pais” do interacionismo simbólico. Cooley introduziu a ideia do “looking-glass self”, sugerindo que o “self” só pode surgir através da interação e comunicação com os outros.
Ou seja, a base intelectual do interacionismo simbólico foi influenciada por pensadores americanos como George Herbert Mead, John Dewey, W. I. Thomas, Robert E. Park, William James, Charles Horton Cooley, Florian Znaniecki, James Mark Baldwin, Robert Redfield e Louis Wirth, que compartilhavam visões próximas às de Blumer sobre o estudo da vida social.
No entanto, não houve uma sistematização clara da abordagem metodológica dessa corrente. Então o livro Symbolic Interactionism: Perspective and Method, com artigos de Blumer (publicado postumamente) busca preencher essa lacuna.
Pilares do Interacionismo Simbólico
Foi Herbert Blumer quem deu nome e fundamentou o “interacionismo simbólico” em três premissas principais detalhadas nos próximos parágrafos, derivadas do pensamento de George Herbert Mead, que foi seu professor.
Além disso, o principal objetivo do Interacionismo Simbólico foi definir algumas “regras” para respeitar a natureza do mundo e organizar uma postura metodológica que reflita esse respeito: ajustando seus problemas, suas concepções orientadoras, seus procedimentos de investigação, suas técnicas de estudo, seus conceitos e suas teorias a esse mundo.
Ou seja, o Interacionismo Simbólico não se deixa enganar pela crença mítica de que, para ser científico, é necessário moldar o estudo para se adequar a um protocolo preestabelecido de investigação empírica.
1. O significado das coisas
O ser humano age em relação às coisas a partir do significado que eles atribuem a essas coisas”. Ou seja, não reagimos às coisas em si, mas à interpretação que fazemos dessas coisas.
Por exemplo, uma bandeira é apenas um pedaço de tecido, mas o significado que atribuímos a ela (nacionalismo, identidade, etc.) é o que guia as nossas ações em relação a ela.
2. A origem do significado
O significado das coisas é derivado da interação social que uns têm com os outros e a sociedade. Portanto, nossos significados não são inerentes aos objetos ou ideias, mas sim construídos e compartilhados por meio de nossas interações com outras pessoas.
Um exemplo muito comum é a própria convivência em um grupo específico. Apenas por fazer parte dele, aprendemos o que é considerado “bom” ou “ruim”, “apropriado” ou “inapropriado”.

3. A natureza interpretativa do significado
Os significados são controlados e modificados por um processo interpretativo usado pelas pessoas, interagindo entre si e com as coisas que elas encontram.
Em outras palavras, os significados não são fixos; eles são constantemente negociados e reinterpretados à medida que interagimos em diferentes situações.
Por exemplo, uma piada que é engraçada em um grupo de amigos pode ser ofensiva em um contexto ou ambiente diferentes.
Deixe-me lembrar ao leitor as premissas básicas do interacionismo simbólico: a vida em grupo humano consiste na adaptação das linhas de ação dos participantes; esse alinhamento de ações ocorre predominantemente pelos participantes indicando uns aos outros o que fazer e, por sua vez, interpretando essas indicações feitas pelos outros; a partir dessa interação, as pessoas formam os objetos que constituem seus mundos; as pessoas estão preparadas para agir em relação a seus objetos com base no significado que esses objetos têm para elas; os seres humanos encaram seu mundo como organismos com si mesmos, permitindo assim que cada um faça indicações para si mesmo; a ação humana é construída pelo ator com base no que ele observa, interpreta e avalia; e a interligação dessas ações contínuas constitui organizações, instituições e vastos complexos de relações interdependentes.
Herbert Blumer (1986)
A formação do “self” por meio da interação
O interacionismo simbólico também oferece argumentos sobre como desenvolvemos nosso senso de “self” (eu), que é um tanto diferente do conceito que você já deve ter ouvido falar de Carl Jung.
George Herbert Mead argumenta que o self não é inato, mas se desenvolve pelas nossas interações sociais. Ele descreve esse desenvolvimento em três fases:
FASE | DETALHES |
---|---|
Brincadeira | A espontaneidade é dominante e não há regras fixas. A criança imita os outros, assumindo papéis de maneira não organizada. |
Jogo | As regras de interação definem exatamente quem é quem e que papéis se devem cumprir. A criança aprende a se colocar no lugar de “outros significativos” e a seguir regras. |
Outro Generalizado | O indivíduo tem acesso a todos os papéis de sua comunidade, sendo capaz de se ver neles, compreendendo o comportamento dos outros e a eles respondendo adequadamente. O indivíduo internaliza as normas e valores da sociedade. |
Assim, o self surge do processo de atividade, comunicação e experiência social. E a nossa identidade é, em grande parte, um reflexo de como os outros nos veem e de como interagimos com eles.
Interação e a construção da Realidade Social
Em uma visão mais ampla, o Interacionismo Simbólico nos ajuda a entender como as interações individuais contribuem para a construção da realidade social. As normas, os valores, as instituições e até mesmo a cultura são vistos como produtos de processos contínuos de interação e negociação de significados.
Como sugerem diversos autores, a sociedade não pode ser estudada fora do processo de interação entre as pessoas. Porque nossas interações diárias, aparentemente pequenas, são os blocos de construção da sociedade como a conhecemos.
Exemplos do Interacionismo Simbólico
- Rótulos sociais: como os rótulos que atribuímos às pessoas (por exemplo, “criminoso”, “inteligente”, “tímido”) podem influenciar a forma como as tratamos e como elas se veem, levando a profecias auto-realizáveis.
- Diferenças culturais na comunicação não verbal: um gesto que é considerado amigável em uma cultura pode ser ofensivo em outra, demonstrando a natureza simbólica e aprendida da comunicação.
- A construção da identidade de gênero: como aprendemos e performamos os papéis de gênero através de nossas interações sociais desde a infância.
- A influência da mídia: como a mídia “seria fomentadora das interações sociais”, oferecendo símbolos e significados que moldam nossa compreensão do mundo.
Resumindo, se você se interessa por como a comunicação, a cultura e as interações humanas constroem o mundo em que vivemos, o Interacionismo Simbólico é um campo de estudo essencial!
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